Carta à revista Veja
Prezados Senhores
A revista Veja é considerada por seus leitores um veículo de informação e credibilidade. Ao tomar conhecimento da matéria “Programa radical” da edição de número 22, pág. 83 verifiquei algumas informações equivocadas sobre a Rede de Televisão Al Jazeera.
A Al Jazeera não é um “agente político no Oriente Médio”, conforme afirma a matéria. Sua proposta é de ser um canal independente passar a informação da forma mais objetiva possível, mesmo sabendo das limitações que o ser humano tem de se livrar de suas experiência anteriores e subjetividade de suas interpretações. Transformar o subjetivo em objetivo é seu desafio. Esta porém, é uma discussão acadêmica e não ideológica ou política como a revista quis demonstrar.
A matéria afirma ainda “[...] tem uma agenda política clara e agressiva; esta agenda é violentamente antiamericana (e, quase desnecessário acrescentar, anti-israelense)”. Não há evidência que isso seja verdade. Os Estados Unidos democrata do presidente Obama tem demonstrado seu dilema entre a retórica democrática e sua política para com o Oriente Médio. O jornalista Igor Bolívar, da Folha On Line, escreveu a seguinte matéria em 28 de junho de 2009: “Se os Estados Unidos forem continuar pregando a democracia, terão que lançar um olhar honesto sobre seus aliados mais próximos naquela região, que não estão nem perto de ser democracia”. Quando o Presidente Obama mandou ao Oriente Médio, George Michell com a recomendação de ouvir ambos os lados, para que o país evite repetir a prática de “ditar” o que os países da região devem fazer. Talvez, o que queria dizer era para deixá-lo fora do discurso de governos anteriores. Assim sendo a Al Jazeera está perfeitamente afinada com o discurso do atual governo dos Estados Unidos da America. Este também foi o discurso de Benazir Butho, do Paquistão, antes de ser assassinada.
A matéria também diz que “a Al Jazeera é a favor de radicais como o libanês Hesbollah, o palestino Hamas e a Irmandade Muçulmana e, de maneira enviesada, a Al Qaeda”. Estas facções são distintas e não estão relacionadas entre si. Não esqueçamos que a Al Jazeera já foi acusada por eles, em momentos distintos, de colaborar para com Israel e foi expulsa recentemente de territórios palestinos.
Todos estes equívocos podemos considerar irrelevantes se compararmos a total desconhecimento de como surgiu esta rede de televisão.
A origem foi uma questão com seu vizinho , o Bharain, em seguida outra contenda entre a BBC e a Orbi Saudita que se apoderou de todo material da BBC. Em 29 de abril de 2003 o Qatar promulgou sua nova Constituição que considerou sua maior conquista a liberdade de imprensa, somente para atender as exigências dos fundadores da Al Jazeera, a censura era terminantemente proibida na imprensa , no rádio e na televisão.
Segundo MILES, Hugs em Al Jazeera – Editora Abacus – Londres 2005 pág. 30. “Da noite para o dia, todas as mídias se tornaram institucionalmente independentes tendo elas o direito de escolher quem iriam empregar, o que poderia transmitir ou publicar”. Nem mesmo o Emir Al Thani poderia interferir na linha editorial da televisão Al Jazeera. Está escrito em seu estatuto de fundação.
Mozah, uma das esposas do Emir, não é só bela, é também muito culta e desempenha um papel importante no Ministério de Educação e Cultura. Tem influência na escolha dos reitores das Universidades, tem promovido o desenvolvimento da cultura e combate ao analfabetismo, colocou uma mulher na Reitoria da mais importante universidade do Qatar, alem de nomear muitas delas para o corpo docente e promoveu o doutorado.
Outro erro, a V Frota Naval Americana esta localizada no Bharain, não no Qatar. O Qatar abriga uma base de Fuzileiros Navais.
Quando Al Jazeera foi criada um dos mais importantes jornalistas e também diretor da empresa era Walid al- Omary, nascido em Israel numa pequena cidade próximo a Nazaré. Estudou Relações internacionais na Universidade Hebraica de Jerusalém. Jornalismo e mídia na Universidade de Tel Aviv. Al Jazeera não pode assim ser anti-israelense como afirma a reportagem.
Ao entrar nos estúdios de televisão da Al Jazeera. Você verá escrito em árabe e em letras douradas: “A opinião da outra opinião”. Este é seu lema.
Em suma são grosseiros todos os equívocos provocados pela reportagem. Como leitor assíduo da revista peço que seja corrigida esta matéria afim de que não seja comprometida a credibilidade desta revista.
Atenciosamente
Paracelso Sant Anna
Jornalista
Obs: Al Jazeera foi resultado de muita pesquisa e razão da minha monografia na conclusão do curso de jornalismo.